O que o caso de um problema em um voo de uma empresa norte-americana deve nos ensinar sobre como lidar com o público
David Dao. Talvez pelo nome você não o reconheça. Mas a sua história tomou todas os meios de comunicação de massa do mundo, tamanho o seu horror. Numa manhã normal, centenas de passageiros adentraram no voo de uma companhia aérea norte-americana, que seguia de Chicago até Louisville, no Kentucky.
O restante da história você já deve ter se lembrado. O comandante da empresa ordenou a retirada de passageiros, por sorteio aleatório, após tentarem comprar a saída dos mesmos. Tudo para satisfazer quatro executivos da empresa que “precisavam” viajar. Um destes sorteios recaiu sobre David Dao.
Dao teve uma reação intempestiva e completamente compreensível. Por ser um médico com pacientes para atender no destino, recusou-se a sair. E aí veio o terror: foi retirado à força, numa das cenas mais escabrosas da história da aviação civil e, quiçá, do mundo corporativo, no que tange ao relacionamento com o cliente. Não só pelo fato de terem arrastado essa pessoa, mas pelos ferimentos físicos e psicológicos causados.
No ato, qualquer ‘cidadão de bem’, ao ver a dantesca cena, teria se colocado ao lado do médico de ascendência vietnamita. Ele foi escorraçado, machucado, tratado pior do que um animal. Como se pode tratar um ser humano assim? Como nós, uma sociedade dita culta e evoluída, permitimos alguém ser tratado dessa forma?
Pensei desta mesma forma. Como podemos permitir pessoas serem maltratadas assim? No entanto, minhas reflexões ultrapassaram a história de Dao, casos relacionados à marketing e comecei a pensar na nossa vida espiritual. Ou melhor, na vida espiritual e relacional dentro da igreja.
Paralelo com as igrejas
Fico preocupado pelo fato de haver pessoas que entram em muitas igrejas (como a nossa e outras) e saem sem nem, pelo menos, terem sido abordadas e acompanhadas durante o período em que estiveram ali. Muitas vezes não ganham um sorriso. Um carinho. Uma presença fraterna.
Se pararmos para pensar, o grande foco que nós temos como membros da igreja é no avanço do evangelho. Pregamos e fazemos do evangelismo nosso grande foco. Tudo converge para o evangelismo público. E esse foco acaba prejudicando um ponto também importante: a retenção daquele que veio para a igreja via evangelismo.
Ou seja: tanto trabalho nos dá para trazer alguém para dentro da igreja e, muitas vezes, os perdemos simplesmente por falta de relacionamento. De um acompanhamento cristão efetivo, onde os irmãos (falo de pessoa física, e não de programas como Ministério da Recepção e Pequenos Grupos, por exemplo) adotem os novos conversos e compartilhem com eles sua experiência cristã.
Necessitamos urgentemente ter esse foco com qualquer pessoa que se achegue a nós. Quando tivermos a clara percepção de que todos são passíveis de salvação e a merecem, nosso modo de agir mudará completamente. Passaremos a ser mais piedosos, mais amigos e fraternos. E, de fato, estaremos levando o evangelho, prático, a esta pessoa.
Caso contrário, o resultado será catastrófico. Perder alguém deve ser doído para nós. Ver alguém saindo da igreja, por não ter sido acolhido e amado equivalerá a um David Dao não dentro de um avião, mas sendo “arrastado” pra fora da graça, por mãos não humanas. Sim, deve ser terrível aos nossos olhos vermos alguém sendo “arrastado”. E aí farei a mesma pergunta feita anteriormente: permitiremos alguém ser tratado desta forma?